sexta-feira, 8 de setembro de 2017

[Crônica] Autoestima: Das feridas que ainda doem

Por Guilherme César




Este texto não busca elogios ou palavras de conforto, seu intuito é meramente o entendimento. Uma reflexão que surge como uma carta aberta a todos aqueles que sofrem do mesmo mal, por diferentes causas. Dedicado àqueles que só querem ser, sem que isso lhes doa tanto.



Eu, com meus 25 anos e muitas histórias já vividas, traumas superados e alguns ainda vivos e dramas deixados de lado –outros nem tanto-, já me sinto livre o suficiente para poder, sem medo, me abrir a respeito de algo que sempre agiu como uma lâmina constantemente cravada em meu peito, a bendita da autoestima. Sim, amigos, minha autoestima é por deveras baixa e isso é uma grande e dolorosa merda. E ao refletir sobre esse fato, percebi que tinha muito o que escrever, que precisava derramar em linhas um pouco da confusão em minha mente, na tentativa de encontrar um rumo.

Dias atrás, um amigo me disse durante uma boa conversa que sempre me enxergou como alguém bem resolvido. Isso de imediato me alegrou, afinal ser “bem resolvido” sempre foi um dos meus objetivos, embora eu deva assumir que o que os outros enxergam é uma simples mascara. No fim da noite, quando entro no chuveiro e posso me despir da armadura, o que resta é um corpo cansado, repleto de cicatrizes e algumas feridas que ainda doem, que ainda sangram. E hoje, mesmo com grandes conquistas, ainda tenho muitas coisas que me afetam, muito que queria ser, muito de como queria ser visto.

E tudo, exatamente tudo, a respeito da minha baixa autoestima se resume a isso, a “como quero ser visto”. Minha imagem, ou a imagem que os outros tem de mim, é algo extremamente importante. Sempre me foi. Talvez por isso eu seja tão paranoico em descobrir o que os outros pensam de mim, em como me enxergam. Talvez por isso eu tenha medo de imaginar os outros falando de mim pelas costas. Isso realmente me assusta muito.

Posso dizer que sou um produto da sociedade machista que nos cerca, pois, todas essas feridas vem da tentativa de me encaixar nos padrões impostos. A sociedade cobra que nós homens devemos ser os típicos “machos alpha”, afinal eles são bem sucedidos, tem boas vidas, lindas mulheres, são felizes. Você só vai conseguir a garota dos seus sonhos se for alto, bonito, com um olhar penetrante, um sorriso misterioso e mais uma grande lista de qualidades. Não esqueça do corpo sarado, viril. Os malditos estereótipos que nunca me encaixei. Eu nunca fui forte, alto ou tinha um sorriso bonito. Meu sorriso, até hoje, é algo que tenho vergonha e te desafio a encontrar uma foto minha mostrando os dentes. E essa visão ruim que tenho de mim não surgiu dos meus olhos e sim das palavras dos outros. Ouvi de várias garotas ao longo de minha sombria adolescência que eu era “esquisito”, “ridículo”, “raquítico”, “estranho”. Ganhei apelidos, fui confrontado, humilhado em sala de aula. Não era um exímio lutador, não amedrontava pelo forte físico, não era respeitado. E eu só queria isso, um pouco de respeito. “Você, você é o único da sala que não tenho medo, em você eu dou conta de bater” era o que eu ouvia.

Fisicamente eu era fácil de se sobrepujar e minha única vantagem sempre foi a mental. Num mundo em que você acaba sendo obrigado a lutar por respeito, a cada confronto eu fui ficando mais desgastado, cada vez mais cansado.

Ouvir que sou fraco, medroso, feio, isso sempre agiu como facadas no peito. E me diga, como dar a volta por cima? Por causa dos golpes na autoestima, acabamos nos obrigando a ser tudo aquilo que dizem que não somos. O magrelo, se obriga a ficar forte. A gordinha, se obriga a emagrecer compulsivamente. E assim, a mente se deteriora junto do corpo e nossa essência se vai. Tudo porque queremos ser aceitos.

Eu mudei, amadureci. Sobrevivi com louvor a adolescência. Mas acredite, ainda tenho problemas em me aceitar quando olho no espelho. Hoje não busco impressionar nenhuma garota, afinal encontrei a mulher da minha vida. Porém, ainda busco me sentir bem, ainda busco ser respeitado. E a autoestima insiste em permanecer baixa. Insiste em cair um pouco sempre que novos golpes são dados em certas feridas. Eu ainda busco ser visto além dos estereótipos. Eu ainda busco ser mais do que os olhos podem ver. Não quero ser visto como covarde, pois não o sou. Tenho medos como todos, os enfrento à medida que posso. Tento me achar tão bonito quanto minha namorada diz que sou e insisto em fazer com que notem os vinte quilos que engordei. Eu lutei, dia após dia, contra um monstro dentro de mim. Um monstro que colocaram lá dentro. Um que insiste em dizer que sempre serei um fracassado, um que insiste em dizer que sou fraco.


E a moral da história é que tais feridas estão por toda parte, em todos nós. No fim do dia, ninguém conhece verdadeiramente o que nos machuca, então, não devemos ter o mínimo de empatia? O que não dói em você, pode doer no outro. Não é frescura, não é fragilidade. É apenas uma ferida que não fechou. Pode ser apenas um lugar que dói demais. Apenas alguém querendo ser aceito. Querendo ser respeitado. Apenas alguém querendo deixar de ser invisível. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário