Por Guilherme César
Este texto não busca elogios ou
palavras de conforto, seu intuito é meramente o entendimento. Uma reflexão que
surge como uma carta aberta a todos aqueles que sofrem do mesmo mal, por
diferentes causas. Dedicado àqueles que só querem ser, sem que isso lhes doa
tanto.
Eu, com meus 25 anos e muitas
histórias já vividas, traumas superados e alguns ainda vivos e dramas deixados
de lado –outros nem tanto-, já me sinto livre o suficiente para poder, sem
medo, me abrir a respeito de algo que sempre agiu como uma lâmina
constantemente cravada em meu peito, a bendita da autoestima. Sim, amigos, minha
autoestima é por deveras baixa e isso é uma grande e dolorosa merda. E ao
refletir sobre esse fato, percebi que tinha muito o que escrever, que precisava
derramar em linhas um pouco da confusão em minha mente, na tentativa de
encontrar um rumo.
Dias atrás, um amigo me disse
durante uma boa conversa que sempre me enxergou como alguém bem resolvido. Isso
de imediato me alegrou, afinal ser “bem resolvido” sempre foi um dos meus
objetivos, embora eu deva assumir que o que os outros enxergam é uma simples
mascara. No fim da noite, quando entro no chuveiro e posso me despir da
armadura, o que resta é um corpo cansado, repleto de cicatrizes e algumas
feridas que ainda doem, que ainda sangram. E hoje, mesmo com grandes
conquistas, ainda tenho muitas coisas que me afetam, muito que queria ser,
muito de como queria ser visto.
E tudo, exatamente tudo, a
respeito da minha baixa autoestima se resume a isso, a “como quero ser visto”.
Minha imagem, ou a imagem que os outros tem de mim, é algo extremamente
importante. Sempre me foi. Talvez por isso eu seja tão paranoico em descobrir o
que os outros pensam de mim, em como me enxergam. Talvez por isso eu tenha medo
de imaginar os outros falando de mim pelas costas. Isso realmente me assusta
muito.
Posso dizer que sou um produto da
sociedade machista que nos cerca, pois, todas essas feridas vem da tentativa de
me encaixar nos padrões impostos. A sociedade cobra que nós homens devemos ser
os típicos “machos alpha”, afinal eles são bem sucedidos, tem boas vidas,
lindas mulheres, são felizes. Você só vai conseguir a garota dos seus sonhos se
for alto, bonito, com um olhar penetrante, um sorriso misterioso e mais uma
grande lista de qualidades. Não esqueça do corpo sarado, viril. Os malditos estereótipos
que nunca me encaixei. Eu nunca fui forte, alto ou tinha um sorriso bonito. Meu sorriso, até hoje, é algo que tenho vergonha e te desafio a encontrar uma foto
minha mostrando os dentes. E essa visão ruim que tenho de mim não surgiu dos
meus olhos e sim das palavras dos outros. Ouvi de várias garotas ao longo de
minha sombria adolescência que eu era “esquisito”, “ridículo”, “raquítico”, “estranho”.
Ganhei apelidos, fui confrontado, humilhado em sala de aula. Não era um exímio lutador,
não amedrontava pelo forte físico, não era respeitado. E eu só queria isso, um
pouco de respeito. “Você, você é o único da sala que não tenho medo, em você eu
dou conta de bater” era o que eu ouvia.
Fisicamente eu era fácil de se
sobrepujar e minha única vantagem sempre foi a mental. Num mundo em que você acaba
sendo obrigado a lutar por respeito, a cada confronto eu fui ficando mais
desgastado, cada vez mais cansado.
Ouvir que sou fraco, medroso,
feio, isso sempre agiu como facadas no peito. E me diga, como dar a volta por
cima? Por causa dos golpes na autoestima, acabamos nos obrigando a ser tudo
aquilo que dizem que não somos. O magrelo, se obriga a ficar forte. A gordinha,
se obriga a emagrecer compulsivamente. E assim, a mente se deteriora junto do
corpo e nossa essência se vai. Tudo porque queremos ser aceitos.
Eu mudei, amadureci. Sobrevivi
com louvor a adolescência. Mas acredite, ainda tenho problemas em me aceitar
quando olho no espelho. Hoje não busco impressionar nenhuma garota, afinal encontrei
a mulher da minha vida. Porém, ainda busco me sentir bem, ainda busco ser
respeitado. E a autoestima insiste em permanecer baixa. Insiste em cair um
pouco sempre que novos golpes são dados em certas feridas. Eu ainda busco ser
visto além dos estereótipos. Eu ainda busco ser mais do que os olhos podem ver.
Não quero ser visto como covarde, pois não o sou. Tenho medos como todos, os
enfrento à medida que posso. Tento me achar tão bonito quanto minha namorada
diz que sou e insisto em fazer com que notem os vinte quilos que engordei. Eu
lutei, dia após dia, contra um monstro dentro de mim. Um monstro que colocaram
lá dentro. Um que insiste em dizer que sempre serei um fracassado, um que
insiste em dizer que sou fraco.
E a moral da história é que tais
feridas estão por toda parte, em todos nós. No fim do dia, ninguém conhece
verdadeiramente o que nos machuca, então, não devemos ter o mínimo de empatia?
O que não dói em você, pode doer no outro. Não é frescura, não é fragilidade. É
apenas uma ferida que não fechou. Pode ser apenas um lugar que dói demais. Apenas
alguém querendo ser aceito. Querendo ser respeitado. Apenas alguém querendo
deixar de ser invisível.
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